quinta-feira, 2 de outubro de 2008

IV - Pt. 2

Gostaria de pedir profundas desculpas aos poucos que acompanham esta história. Estive em um período de recesso mental. Felizmente, acredito já ter dado um ponto final nele.

Obrigada aos que se preocupam com o final deste conto.

Gisela se levanta e vai em direção à cozinha. Luís vai atrás e diz:

- Sem Atreyu?! Então me parece que você precisa de um defensor, disse se aproximando de Gisela.

- Muito obrigada, mas acho que você tem condição de tudo agora, menos defender alguém...

- Minha auto-estima foi lá no céu agora.

- Ah, eu tenho certeza de que esses sonhos vão passar, dizem que quanto mais pensamos neles, maiores são as chances de voltarem à noite.

Enquanto isso, pega uma garrafa d'água na geladeira e dois copos. Ela os enche e deixa a garrafa em cima da mesa, junto com os copos cheios.

- É, diziam o mesmo pra mim quanto ao Bicho-Papão.

- E sua ironia sempre intocável, não, Luís?

- Força do hábito.

Luís se vira para a geladeira com a garrafa na mão e a guarda de volta.

- A cada dia que passa, conheço um novo hábito seu, diz Gisela.

- Sou uma pessoa versátil, me atualizo freqüentemente. Isso costuma ser um charme, concorda?

- Se você diz, quem sou eu pra discordar?

Gisela bebe toda a água em apenas um gole e empurra o copo de Luís na direção dele:

- Não vai querer?

- Não. Acabei de atualizar minha idéia.

Aquela atitude dele, aparentemente sem sentido, a incomodou profundamente. Ela já não conseguia mais reconhecer a pessoa com quem lidava:

- Você devia era atualizar sua vida! Ainda não consigo aceitar o que está fazendo, disse enfurecida saindo da cozinha com o copo d'água ainda em mãos.

Luís fica parado na cozinha por um tempo pensando sobre o que ela acabara de dizer. Nunca fora do tipo que retomava uma decisão dessas importantes... Talvez fosse a hora certa pra mudar. Ele pega o copo cheio em cima da mesa e vai em direção à sala dizendo:

- Ô, Gi!, e essa água aqui? Ainda tá de pé, não é?

Ao atravessar o portal da cozinha, se depara com a sala, um copo vazio na mesa de centro em frente à TV e a porta entreaberta.

Em cima do braço do sofá, um bilhete escrito à mão:

"Só você pode me se salvar."



Ao chegar em casa, chega exausta. Problemas psicológicos, principalmente dos outros, sempre davam muito trabalho. Ela joga a mochila na mesa da cozinha e vai para o banheiro. Ao sair, o rosto molhado e a cara de nada refletem suas possíveis preocupações libertadas.

Provável que sua mãe já estivesse dormindo e, como sempre, acordá-la era a única coisa que Gisela não tinha como intenção. No entanto, também sempre, era a primeira a acontecer:

- Tem resto de janta na geladeira! Esquenta e come! Nada de dormir de estômago vazio, isso atrapalha o sono!

- Tá bem, Mãe, obrigada...

- Parece até que sou mulamba! Já pedi pra você não me acordar à toa! Às vezes me arrependo de fazer as coisas por você, nunca recebo nada em troca...

“...Daqui a pouco vou começar a cobrar!” Esse texto, Gisela conhecia melhor do que a própria mãe. Enquanto ela continuava o discurso revoltado, Gisela esquentava a comida, lavava a louça, tomava banho, escovava os dentes... Era o tempo certo pra tudo. Parecia até que a velha ficava no quarto contando no relógio tempo suficiente pra que a filha fizesse tudo que queria. Ao terminar, automaticamente sua mãe voltava a dormir. Apesar de saber disso, Gisela sempre passava pela porta do quarto de Dona Ana antes de deitar, só para ter certeza de que mais nada a perturbaria.

Depois de ter tudo sobre controle, ela vai para seu quarto. Lá estava ele, assim como tinha deixado pela manhã. Acende a luz para confirmar de que tudo está mesmo no seu devido lugar. Às vezes se perguntava o porquê de fazer isso... Talvez tivesse um medo inconsciente de que as coisas fugissem dos conformes enquanto estivera fora. No entanto, encontrava sempre tudo no seu devido lugar. A mochila ficava mesmo pela cozinha, se a deixasse no quarto, acabava se esquecendo de levá-la para a faculdade no dia seguinte.

Gisela apaga a luz do quarto e se deita na cama. Como sempre, ainda lhe faltava uns quinze minutos de olhos abertos para que o sono chegasse. Enquanto isso, ela ficava esvaziando a cabeça, tentando não pensar em nada, coisa que sabia ser impossível. As tentativas eram muitas, assim como os fracassos. Era sempre uma coisa boba que vinha para atrapalhar quando ela estava quase lá. Primeiro excluía as imagens, depois os sons, logo não lembrava de mais nada. Agora vinha a parte mais difícil, acabar com a escuridão, aquela cortina preta que se fechava junto com suas pálbebras. Ela persistia, mas parecia que seu gás acabava...

E só assim então conseguia dormir.

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