domingo, 24 de agosto de 2008

III - Pt. 2

“...Começa hoje o processo que será realizado para verificar a denúncia de que presos estariam recebendo tratamento ‘vip’. Agentes encontraram telefones celulares e radio transmissores nas lixeiras do presídio...”

- O que eles fazem é mágico, não é? falou Gisela.

- Eles quem? pergunta Miguel.

- Esses homens da TV.

- Como assim? indagou Paula.

- Fazem milagre com as informações. Quem não está cansado de saber que os presidiários estão mais seguros do que nós? Que lá dentro comem caviar enquanto tem gente aqui morrendo de fome? Eles reciclam notícias a todo momento, e ninguém se importa... Ninguém nem repara.

- E você considera isso mágico, disse Lara sendo irônica.

- Se pudesse fazer metade do que fazem com a cabeça de uma pessoa usando apenas cinco minutos do horário nobre, eu me sentiria no mínimo poderosa.

- Acho muito injusto você dizer que a mídia é totalmente manipulada, diz Paula.

- Não disse que a mídia é manipulada. Verdade é que nós não enxergamos nada, eles sim, mas apenas o que querem. Quis dizer que somos cegos e a mídia é míope.

- E você continua dando ouvidos a essa ‘reciclagem’, disse Lara.

- É... Me sinto confortável sendo cega. Apesar de algumas vezes ter vontade de enxergar pelo menos um pouco...

- Estou morrendo de fome, vou pegar alguma coisa pra comer na lanchonete, diz Miguel, vem comigo, Paula?

- Vou sim, também estou com fome. Vamos, amor?

Lara se levanta sem nem precisar concordar, e os três vão até a lanchonete. Enquanto isso, Gisela está terminando seu almoço. Maria ficou na mesa, o que chega a ser estranho, já que era impossível enxergá-la longe dos outros. Agora, aquele silêncio constrangedor imperava no local. Obviamente constrangida, Gisela tentava se concentrar novamente no noticiário, ao passo que Maria olhava para o nada, como sempre.

Depois do almoço terminado, Gisela se sentia na obrigação de dizer alguma coisa, idear um assunto para acabar com aquela situação ruim. Assim que Gisela começa a pensar em uma conversa apropriada, Maria se adianta e diz:

- Você precisa de um tratamento.

- O quê? disse Gisela assustada com o comentário.

- Minha mãe tinha isso.

-‘ Isso’ o quê?!

E antes mesmo que ela pudesse continuar a expressar sua indignação com a crítica, a garota, até então, apática se levanta e vai atrás dos outros três.

- Ótimo, agora sou chamada de doente por alguém que não fala, diz Gisela inconformada.

Sem hesitar e pensar em se despedir, Gisela também se levanta da mesa. Guardou seus pertences e se encaminhou irritada para a próxima aula.

Um comentário:

camila m. disse...

Essa parte foi, como posso dizer?
Foi engraçada e crítica, óbvio. E é incrível como é complicado se expor, expor suas idéias e coisas do tipo.
Bem, continuo me interessando e gostando bastante.